O lobo terrível está de volta? Essa pergunta tomou conta da internet depois que uma empresa de biotecnologia anunciou o nascimento de filhotes com traços físicos semelhantes aos da famosa espécie extinta há milênios. A história parece saída de um filme de ficção científica, mas há mais detalhes nessa história do que se imagina. Antes de sair acreditando que a pré-história voltou, é importante entender o que realmente aconteceu.
O que foi o lobo terrível?
O lobo terrível (Aenocyon dirus) foi um dos maiores predadores da Era do Gelo. Ele viveu nas Américas por milhares de anos, até ser extinto há cerca de 10 mil anos, no final do período Pleistoceno. Mais robusto que os lobos atuais, o lobo terrível caçava grandes animais, como bisões e preguiças gigantes. Sua fama cresceu ainda mais ao aparecer como inspiração nos lobos gigantes da série Game of Thrones.
Apesar do nome assustador, o lobo terrível não era muito diferente dos lobos modernos. Mas o que o tornava único era sua estrutura física imponente, adaptada para sobreviver em ambientes extremos e lidar com presas de grande porte.
A polêmica do “retorno”
Em abril de 2025, a empresa americana Colossal Biosciences deu o que falar ao anunciar o nascimento de três filhotes com traços físicos inspirados no lobo terrível. Batizados de Rômulo, Remo e Khaleesi — nomes que remetem à mitologia e à cultura pop, os animais reacenderam o debate sobre desextinção.

A equipe de cientistas usou técnicas de edição genética para modificar lobos-cinzentos, inserindo características próximas às do lobo terrível. Eles alteraram genes ligados à cor da pelagem, ao tamanho do corpo e ao formato do crânio. De acordo com a Colossal, o objetivo era criar uma “versão funcional” da espécie extinta.
Mas aqui está o ponto crucial: esses animais não são verdadeiros lobos terríveis. Eles não foram clonados a partir de DNA antigo, como em Jurassic Park. Na verdade, são lobos modernos com algumas modificações genéticas baseadas em fragmentos do genoma do Aenocyon dirus.
O que dizem os cientistas?
Apesar do entusiasmo da Colossal Biosciences, vários especialistas questionam a legitimidade da experiência. O paleogeneticista Nic Rawlence, por exemplo, explicou que é praticamente impossível recriar o DNA completo do lobo terrível, pois os fragmentos disponíveis estão extremamente degradados. Ele comparou o processo a tentar montar um quebra-cabeça com peças faltando e borradas.
Além disso, a empresa ainda não publicou os resultados em revistas científicas revisadas por pares, o que levanta dúvidas sobre a validade do experimento. Muitos cientistas veem o projeto como uma jogada de marketing disfarçada de avanço científico.
E quanto aos riscos?
Mesmo que fosse possível recriar o lobo terrível com perfeição, vários problemas éticos surgiriam. Colocar uma espécie extinta de volta em um ecossistema moderno poderia gerar desequilíbrios ambientais. Além disso, os próprios animais poderiam sofrer, já que não saberiam como se comportar em um mundo completamente diferente do que conheciam.
Leia Também
Por fim, há também a discussão sobre o uso de animais como cobaias em experiências genéticas. Será que vale a pena investir tantos recursos para reviver espécies extintas, enquanto outras estão desaparecendo hoje?
Afinal, o lobo terrível voltou?
Não exatamente. O que temos são lobos modernos com algumas características genéticas parecidas com as do lobo terrível. Embora o feito da Colossal Biosciences seja impressionante do ponto de vista tecnológico, ele não representa o verdadeiro retorno da espécie extinta.
Esse caso nos mostra como a ciência está avançando rapidamente, mas também nos lembra da importância de manter o pé no chão. Nem tudo o que parece extraordinário é o que realmente parece. E, no fim das contas, o lobo terrível continua sendo uma lenda da pré-história — pelo menos por enquanto.