Localizadas a cerca de 400 quilômetros de Lima, no coração do deserto do sul do Peru, as enigmáticas Linhas de Nazca continuam a intrigar cientistas e entusiastas. Essas formas gigantescas, visíveis apenas do alto, foram criadas pela civilização nazca entre 500 a.C. e 500 d.C., mas o propósito exato delas permanece um mistério.
As Linhas de Nazca abrangem uma vasta área de cerca de 517 quilômetros quadrados. Criadas ao remover as rochas escuras que cobriam o solo para expor a areia clara abaixo, essas figuras sobreviveram por séculos graças ao clima árido. Descobertas oficialmente em 1927, as linhas atraíram atenção global após os estudos de Paul Kosok, que sugeriu que poderiam ser um antigo calendário astronômico.
Novas Descobertas com Tecnologia de Ponta
Entre 2016 e 2018, arqueólogos da Universidade de Yamagata, liderados por Masato Sakai, usaram tecnologia avançada para analisar as Linhas de Nazca. A equipe utilizou imagens de satélite de alta resolução, que permitiram uma visão detalhada e precisa das linhas e geoglifos que estavam difíceis de detectar a olho nu. Essa abordagem foi combinada com intensos estudos de campo, incluindo visitas ao local, o que possibilitou a identificação de mais de 300 novas figuras até então desconhecidas.


O avanço mais significativo, porém, veio do uso da inteligência artificial (IA). Essa tecnologia inovadora permitiu que os pesquisadores não apenas identificassem figuras que estavam ocultas pela erosão ou pelo desgaste do tempo, mas também reconstruíssem algumas formas que haviam se deteriorado ao longo dos séculos. A IA foi especialmente útil para reconstruir geoglifos que métodos convencionais, como medições simples ou observações a olho nu, não conseguiam definir.
Reconstrução de novos geoglifos
Entre as novas figuras descobertas, uma se destaca: um geoglifo de uma figura humanoide segurando um bastão. Esse desenho, de difícil compreensão à primeira vista, desperta um grande interesse entre os cientistas. Ainda não se sabe o seu significado exato, mas sua inclusão entre as descobertas mais recentes sugere uma função simbólica ou até religiosa, refletindo práticas culturais e crenças da antiga civilização nazca.

As novas figuras descobertas variam amplamente em termos de tamanho e complexidade. As menores, com cerca de cinco metros de comprimento, são simples, mas ainda assim carregam significados que precisam ser melhor compreendidos.
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As figuras maiores, algumas chegando a mais de 100 metros, impressionam não apenas pelo tamanho, mas também pela complexidade do desenho. Essas representações gigantescas exigem uma visão aérea para serem totalmente apreciadas e muitas delas são de difícil acesso devido à sua localização em um terreno árido e remoto.

Para facilitar o estudo e a catalogação dessas novas figuras, os arqueólogos dividiram as descobertas em dois grupos principais. O Grupo A inclui geoglifos lineares e de formas mais simples, geralmente maiores, com mais de 50 metros. Eles foram provavelmente feitos entre 100 e 300 d.C. e estão associados a rituais e práticas cerimoniais.
Por outro lado, o Grupo B inclui desenhos mais complexos e de tamanho menor, com menos de 50 metros. Esses geoglifos são mais antigos, provavelmente datando de 100 a.C. ou períodos anteriores. Acredita-se que tenham servido como pontos de referência para viajantes ou marcos para orientar rotas no deserto.
Preservação e Patrimônio Mundial
Em 1993, o governo peruano declarou as Linhas de Nazca como parte do Patrimônio Cultural da Nação. Logo no ano seguinte, em 1994, a UNESCO reconheceu as Linhas de Nazca como Patrimônio Mundial, destacando suas proporções monumentais, visibilidade aérea e localização desafiadora em um dos desertos mais áridos do mundo.
Apesar dos avanços tecnológicos e da pesquisa arqueológica, as Linhas de Nazca continuam a manter seu mistério. Dessa forma, elas seguem fascinando e a inspirando investigações sobre a rica herança cultural dos antigos povos do Peru.