Nas últimas semanas, o Oriente Médio presenciou uma das etapas mais complexas e devastadoras do conflito entre Israel e o Hezbollah, culminando no cessar-fogo entre Israel e Hezbollah, intermediado pelos Estados Unidos e a França. O acordo, que começou a vigorar no dia 27 de novembro de 2024, trouxe alívio temporário, mas muitas incertezas permanecem sobre sua viabilidade e durabilidade.
Contexto e mobilização
O acordo prevê que Israel retire suas forças do Líbano dentro de 60 dias, enquanto o Hezbollah deslocará seus combatentes ao norte do Rio Litani, uma medida para afastar o grupo das fronteiras israelenses. O Exército libanês, por sua vez, está aumentando sua presença na região sul do país em coordenação com a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL). Eles já contam com cerca de 10 mil soldados de diversas nacionalidades.
Os efeitos do cessar-fogo já começam a ser sentidos, com milhares de civis deslocados retornando às suas cidades no sul do Líbano, mesmo em meio a alertas de Israel sobre áreas potencialmente inseguras. Estradas congestionadas ligando Beirute ao sul evidenciam o êxodo inverso de uma população que busca reconstruir suas vidas após meses de intensos bombardeios.
Desafios humanitários e militares
A guerra deixou cicatrizes profundas. Estima-se que mais de 1,2 milhão de pessoas tenham sido deslocadas, com danos econômicos avaliados em cerca de 8,5 bilhões de dólares, segundo o Banco Mundial. A destruição de infraestrutura, incluindo cerca de 100 mil unidades habitacionais, agrava a crise humanitária em um Líbano já fragilizado por problemas econômicos pré-existentes.
No entanto, o cessar-fogo ainda é marcado por episódios de tensão. Mesmo após o início da trégua, o Exército israelense bombardeou as vilas de Khiam e Kfar Kila, justificando a ação como uma resposta a movimentos suspeitos em zonas restritas. Tais incidentes ressaltam a fragilidade do acordo e o risco de retomada do conflito.
Hezbollah: de força regional à reconstrução
Para o Hezbollah, a guerra representou um duro golpe. A organização terrorista perdeu líderes de alto escalão, incluindo Hassan Nasrallah, secretário-geral por 32 anos. Além disso, a resposta intensa de Israel atingiu áreas tradicionalmente leais ao grupo, como vilas no sul do Líbano e subúrbios de Beirute. Apesar disso, o Hezbollah insiste em retratar o cessar-fogo como uma vitória, reforçando seu compromisso com a “resistência”.
Especialistas, no entanto, apontam para uma crescente insatisfação dentro do Líbano, inclusive entre xiitas, tradicionalmente base de apoio do Hezbollah. Muitos criticam o grupo por ter levado o país a um conflito desnecessário e devastador.
Implicações regionais e internacionais
O cessar-fogo ocorre em um contexto mais amplo de tensões no Oriente Médio, envolvendo não apenas o Hezbollah, mas também o Hamas em Gaza e o Irã. Para Israel, o acordo oferece uma oportunidade estratégica de concentrar esforços contra o Hamas e reforçar seus estoques militares.
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Por outro lado, o papel do Irã, principal apoiador do Hezbollah, também está sob escrutínio. O fracasso do “eixo da resistência” em prestar auxílio significativo ao grupo libanês pode sinalizar um enfraquecimento da rede de milícias pró-Irã na região.
Embora o cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah represente uma pausa bem-vinda na violência, ele está longe de garantir uma paz duradoura. Com desafios humanitários e políticos à frente, tanto o Líbano quanto a comunidade internacional precisam trabalhar em conjunto para evitar uma retomada dos combates e para promover a estabilidade na região.